Ensino especial vai ter planos individuais e mais tempo em sala
Escola pública conta com cerca de 70 mil alunos
com necessidades educativas especiais
O Ministério da Educação vai
criar novas regras para o ensino especial que passam, por exemplo, por criar
planos específicos para estes alunos quando as abordagens tradicionais falham
ou obrigar as escolas a incluí-los mais tempo nas salas de aula com os
restantes colegas. A chamada "escola inclusiva 2.0" é uma reforma ao
decreto-lei 3/2008, que regula a educação especial desde há quase uma década, e
tem como objetivo garantir uma "escola em que as crianças não estão apenas
integradas, mas incluídas em sala de aula, em ambiente de aprendizagem com os
colegas, sem desinvestimentos nos apoios necessários", adiantou ao DN o
secretário de Estado da Educação, João Costa.
Na prática, explica Luísa
Ucha, coordenadora do grupo de trabalho que deverá em novembro fazer chegar ao
governo as propostas de alteração legislativa, o objetivo é criar abordagens
"que permitam a cada aluno atingir o seu potencial". Isso passa por
"centrar na escola" e na sala de aula o trabalho com os alunos, num
trabalho "multidisciplinar, envolvendo família, professores e
técnicos", que permita, por exemplo, "caso as abordagens
convencionais não resultem, elaborar planos específicos para cada aluno".
Passa também pela redução do tempo passado por alunos com necessidades
educativas especiais nas chamadas "unidades especializadas", que
foram criadas para facilitar a integração destes estudantes no ensino regular.
Novidades que surgem numa semana em que o Centro de Apoio ao Desenvolvimento
Infantil - CADin debateu problemas de desenvolvimento como o espetro do autismo
e a hiperatividade e défice de atenção, numa conferência que termina hoje em
Lisboa, no ISCTE (ver texto ao lado).
Numa altura em que cerca de 70
mil alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) estão integrados nas
escolas regulares, sendo já residual o número de estudantes em escolas
especiais, o peso dado por muitas escolas a estas unidades tem sido motivo de
críticas. Por exemplo, num relatório sobre Portugal divulgado em abril, o
Comité da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência contestou o tempo
excessivo que muitos estudantes passam nestes espaços, separados dos colegas.
O governo já deu um sinal a
este respeito, exigindo que os alunos com NEE passem pelo menos 60% do seu
tempo letivo integrados na sala de aula para que as escolas possam beneficiar
da redução do número de alunos por turma. E preveem-se mais novidades para
estes serviços especializados nas diferentes deficiências. "Estas unidades
foram muito importantes na altura em que trouxemos os alunos todos para as
escolas, porque a escola precisa de recursos", diz Luísa Ucha, ressalvando
não "estar em causa" a continuidade destas estruturas. "Mas
agora há uma evolução, que resulta do conhecimento do tipo de trabalho, da
análise crítica que as pessoas fazem do que a criança aprende dentro e fora da
unidade", explica. Não quer dizer que dentro da escola não se possam dar
apoios e respostas mais individualizados", ressalva. "Agora, passar o
dia dentro da unidade não é boa resposta".
Ao DN, o Ministério da
Educação garante também que "nunca" esteve em cima da mesa a extinção
destes serviços. Mas admite que está em discussão "a necessidade de
existirem respostas mais flexíveis do que a simples colocação de alunos nas
unidades de apoio especializadas, melhorando o leque de respostas inclusivas.
Estas unidades devem ser consideradas como centros de recursos para promover
competências e aprendizagens numa perspetiva de inclusão e não uma alternativa
a essa inclusão". David Rodrigues, presidente da pró-inclusão - Associação
de Professores de Educação Especial, concorda que este tem sido um obstáculo à
real inclusão dos alunos: "Há unidades que realmente funcionam como sendo
unidades de inclusão, no sentido de que proporcionam aos alunos oportunidades
de inclusão e outras que não funcionam. Tornam-se um pouco guetos dentro das
escolas", diz.
As alterações ao decreto
3/2008 não se esgotam nestes temas. Luísa Ucha explica que as propostas ainda
não estão fechadas, mas já estão definidas "à partida" algumas
prioridades, integradas no objetivo de procurar respostas
"individualizadas" eficientes para todos os alunos: "Não
queremos dar muito enfoque à deficiência ou à Necessidade Educativa Especial
mas a outra coisa: às medidas de apoio à aprendizagem que permitam que
determinado estudante aprenda. O objetivo da escola é ensinar". Medidas
comuns a todos os alunos, como a anunciada flexibilização dos currículos,
também são encaradas como essenciais.
In DN. Pedro Sousa Tavares. 23
outubro 2016.
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quinta-feira, 10 de novembro de 2016
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