Aprende Mais, a explicação do teu sucesso!

Será que ser bilingue mantém o cérebro em forma?


A maioria das pessoas fala mais do que uma língua, o que indica que o cérebro pode ter evoluído de modo a funcionar em várias linguagens. Se assim for, o que perde quem fala apenas um idioma?
 
Em todo o mundo, mais de metade das pessoas (60 a 75 por cento, dependendo das estimativas) falam pelo menos dois idiomas. Assim, ser monolingue, como são muitos falantes de inglês, é estar em minoria, e talvez ficar a perder.

O multilinguismo tem demonstrado muitas vantagens ao nível social, psicológico e de estilo de vida. Os investigadores estão também a descobrir uma vasta série de benefícios de saúde que resultam de falar mais do que uma língua, incluindo a capacidade de recuperar mais rapidamente após um enfarte e a manifestação mais tardia dos sintomas de demência.

Os bilingues realizam certas tarefas muito melhor do que os monolingues – são mais rápidos e mais precisos.

Ao longo do tempo, grupos diferentes de humanos primitivos terão começado a falar idiomas diferentes. Depois, de forma a poderem comunicar com outros grupos – para fazer trocas, em viagem, etc. – alguns dos membros de uma família ou grupo teriam de aprender outros idiomas. Pensa-se que as primeiras palavras poderão ter sido proferidas há 250 mil anos, depois de os nossos antepassados terem começado a andar apoiados em duas pernas.

O bilinguismo era desaconselhado, e afirmava-se que as crianças bilingues poderiam confundir-se com as duas línguas e vir por isso a ser menos inteligentes, a ter menos autoestima, a ter comportamentos desviantes ou até mesmo a desenvolver dupla personalidade ou esquizofrenia. Esta visão manteve-se até há muito pouco tempo, e acabou por desencorajar muitos pais imigrantes de falar com os filhos nas suas línguas maternas.

Diversos estudos publicados ao longo da última década têm revelado que os bilingues desempenham melhor uma série de tarefas cognitivas e sociais do que os monolingues, desde testes verbais e não-verbais à facilidade de “ler” os outros.

Maior capacidade de concentração e de resolução de problemas, maior flexibilidade mental e facilidade de executar múltiplas tarefas em simultâneo são, manifestamente, competências preciosas na vida quotidiana. Mas talvez a vantagem mais entusiasmante do bilinguismo ocorra na velhice, quando a função executiva tende a entrar em declínio: ao que tudo indica, o bilinguismo pode funcionar como defesa contra a demência.

Aliás, segundo o neuropsicólogo cognitivo Jubin Abutalebi, da Universidade de San Raffaele, em Milão, é possível distinguir bilingues de monolingues apenas ao olhar para imagens obtidas a partir dos respetivos cérebros. “Os bilingues têm significativamente mais massa cinzenta do que os monolingues no córtex cingulado anterior, e isso deve-se ao facto de o usarem com muito mais frequência”, afirma. O CCA funciona como um músculo cognitivo, acrescenta: quanto mais se usa, mais forte, maior e mais flexível se torna.

Tal como precisamos de fazer exercício físico para manter saudáveis corpos que evoluíram para se adaptar ao estilo de vida fisicamente ativo dos caçadores-recoletores, talvez devêssemos começar a fazer mais exercícios cognitivos para manter a forma mental, sobretudo se falarmos apenas uma língua.
Como demonstra a investigação recente, não é tempo perdido. O bilinguismo pode ajudar as nossas cabeças a trabalhar melhor e até mais tarde, pela velhice dentro, o que pode vir a ter um enorme impacto na forma como ensinamos os nossos filhos, assim como na nossa relação com os idosos.

In Observador. Tradução: Francisca Cortesão. 1 Setembro 2016. 

Marcadores:

sexta-feira, 2 de setembro de 2016