Não, escrever à mão não é para esquecer
Quem ainda usa papel e caneta memoriza mais informação a longo prazo e aprende melhor, apontam vários estudos. Como as tecnologias também têm as suas vantagens, o segredo está em saber conciliar.
Ivo Pintanguy, o cirurgião plástico dos famosos, conhecido pela mestria com que manejava o bisturi, gostava de lembrar que a mão é um instrumento do cérebro. Ao longo da sua vida, tinha visto colegas com tremeliques e, mesmo assim, a conseguirem executar o que queriam, e jeitosos a quem faltava cabeça para fazerem cirurgias como deve ser.
A ligação entre a mão e o cérebro é óbvia, provavelmente a merecer um leve encolher de ombros nesta altura do campeonato. Mais interessante é dizerem-nos que escrever à mão ajuda na memória, compreensão e capacidade de generalização – em duas palavras: aprendemos mais.
Foi a essa conclusão que chegaram dois psicólogos americanos, Pam. A Mueller, da Universidade de Princeton, e Daniel M. Oppenheimer, da Universidade da Califórnia, com o estudo a que deram o título The Pen is Mightier Than the Keyboard (a caneta é mais poderosa do que o teclado).
Pegaram em dois grupos de estudantes universitários e pediram-lhes que tomassem notas durante as aulas, uns em laptops, outros com papel e caneta. Para tirarem teimas, ainda os puseram a assistir a conferências Ted, e o resultado foi idêntico nas duas experiências. Aqueles que escreveram à mão registaram menos informação, mas compreenderam-na melhor e não se esqueceram logo dela. O facto de terem escrito mais devagar levou-os a estarem mais atentos para não perderem e tomarem nota daquilo que consideraram mais importante.
“Mostramos que, embora tomar mais notas possa ter os seus benefícios, a tendência que os utilizadores de laptops têm de transcrever o que ouvem tim tim por tim tim em vez de processarem a informação e reescreverem-na nas suas próprias palavras é prejudicial à aprendizagem”, lê-se no estudo, publicado na revista Psychological Science, em 2014.
Dois anos antes, investigadores da Universidade de Washington descobriram que as pessoas que usaram computador fizeram-no de uma forma tão rápida e mecânica que, um ou dois dias depois, já não se lembravam de quase nada. Também em 2012, Karin James, psicóloga da Universidade de Indiana, estudou crianças no pré-escolar e concluiu que a ativação do cérebro durante a perceção das letras é influenciada pela escrita à mão; a caligrafia pode facilitar a aquisição da leitura em crianças pequenas.
in Visão. Rosa Ruela. 10 Agosto 2016.
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quinta-feira, 11 de agosto de 2016
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